As planícies a perder de vista começam a desenrolar-se junto ao Tejo. Se ao norte o ritmo é marcado pelo verde da campina, mais para sul a paisagem combina com sol, calor e um ritmo compassado. É o Alentejo.
A norte pastam cavalos na lezíria; no vasto interior, a planura imensa, searas louras ondulando ao vento; no litoral praias selvagens, duma beleza agreste e inexplorada.
A amplitude da paisagem é entrecortada por sobreiros ou oliveiras que resistem ao tempo. Santarém é um miradouro natural sobre a imensidão do Tejo. Aqui e ali ergue-se um recinto muralhado, como Marvão ou Monsaraz, ou a antiguidade duma anta a lembrar a magia do lugar. Nos montes, casas térreas e brancas coroam pequenas elevações, os castelos evocam lutas e conquistas, e os pátios e jardins atestam influências árabes, que moldaram povo e natureza.
No Alentejo, a força da terra marca o tempo e cidades como Elvas, classificada Património Mundial pela Unesco, mostram a tenacidade das gentes.
Talvez por isso a cultura e a espiritualidade ganhem aqui um caráter particular. Basta conhecer Évora para perceber por que razão foi há muito classificada Património Mundial. Admiramos o templo de Diana e algumas das suas igrejas, como a de S. Francisco com a célebre Capela dos Ossos. Ou a catedral que marca a memória e identidade como todas as outras do Alentejo, em Santarém, Portalegre, Elvas e Beja. Memórias do passado são também o que perdura nas antigas judiarias, especialmente em Castelo de Vide.
A planura facilita os passeios a pé ou de bicicleta, mas os cavalos também fazem parte do lugar. No Campo Branco de Castro Verde podemos combinar esses passeios com a observação de aves e, em barragens como no Alqueva, a serenidade das águas ou a contemplação do manto de estrelas da Rota Dark Sky contaminam a placidez do local.
Mas não podemos passar para norte ou para sul sem explorar o litoral. Aí, a paisagem é alta e escarpada, com pequenas praias abrigadas entre arribas, e muitas que são ideais para o surf. E também aqui há aromas de campo, as ervas de cheiro temperam peixes, mariscos e outros pratos regionais, que se acompanham com excelentes vinhos da região. Porque todo o Alentejo vive ao ritmo da terra.
Évora, Património da Humanidade
Évora, é uma cidade que é um livro de história de arte portuguesa.
Para a visitar, a melhor forma de o fazer é a pé, percorrendo as ruas estreitas, de casas brancas, para se ir descobrindo os monumentos e os pormenores que revelam a história de Évora e a riqueza do seu património.
Pelo seu ambiente tranquilo e acolhedor, vai ser fácil perceber porque é que esta cidade, que teve origem na época romana, foi escolhida pelos reis de Portugal no séc. XV para viver, facto que contribuiu para o desenvolvimento e importância cultural que teve nos séculos seguintes. Na verdade, foi a sua longa história, e o facto de se ter preservado um conjunto urbano representativo dos séculos XVI a XVIII até aos dias de hoje, que levou a UNESCO a classificar Évora como Património Mundial.
Para começar, a Praça do Giraldo...
É o coração da cidade e um ponto de encontro por excelência, com cafés, esplanadas, lojas e o posto de turismo. Num dos extremos, fica a Igreja de Santo Antão e o Chafariz de mármore com 8 bicas, representando as 8 ruas que aí vão dar.
Uma sugestão de itinerário
Partindo das arcadas na Praça do Giraldo, faça um primeiro percurso pelos principais pontos de interesse: o Templo e as termas romanas, as muralhas medievais, a Sé, a Igreja da Graça e a Igreja de São Francisco, com a sua curiosa Capela dos Ossos.
Se houver tempo, não deixe de incluir o Museu de Évora, a Fundação Eugénio de Almeida, e a antiga Universidade, fundada no séc. XVI, uma das razões para o espírito jovem e descontraído que encontramos em Évora. Vale ainda a pena passear pelo romântico Jardim onde se encontra o Palácio de D. Manuel e visitar a Ermida de São Brás, já fora de muralhas.
Seja por motivos culturais ou para passar um fim de semana calmo, Évora é uma cidade inspiradora e com muito a conhecer. Fora da cidade, o melhor é seguir as estradas secundárias para apreciar a paisagem alentejana. Se gosta de arqueologia, tome a EN114, em direção a Guadalupe e descubra, a 3 km, o Cromeleque dos Almendres, o maior da Península Ibérica. São 95 monólitos, com milhares de anos e com um propósito ainda por desvendar.
A torre da Sé e o Templo
São verdadeiros ex-libris da cidade e farão parte, com certeza, do álbum fotográfico. A Torre da Sé é facilmente reconhecida pela sua forma particular, numa combinação de torres cónicas pouco habituais na arquitetura portuguesa. No meio da cidade, pode ser um bom guia para ver onde se encontra. Saiba ainda que a Sé de Évora é a maior catedral medieval do país.
Muito perto, no largo Conde Vila Flor, destaca-se o grande Templo de origem romana, símbolo do culto imperial, que durante séculos se pensou ser dedicado à Deusa Diana.
A Rota Vicentina
Ao longo da costa oeste, partimos à descoberta da Rota Vicentina. O oceano acompanha-nos entre as arribas recortadas e por vezes somos presenteados com campos de flores selvagens que parecem não ter fim.
Não pode haver melhor proposta para uma caminhada… Esta grande rota pedestre, que no total tem quase 340 quilómetros ao longo de uma das mais belas e bem preservadas zonas costeiras da europa, é constituída por dois percursos e surpreende-nos pela diversidade de paisagens.
O “caminho histórico”, com 230 kms, é o percurso mais extenso e parte de Santiago do Cacém até ao Cabo de São Vicente. É um itinerário rural, com 12 etapas por caminhos florestais, vilas e aldeias com séculos de história, e pode ser percorrido a pé ou de bicicleta.
Já o “trilho dos pescadores” segue sempre junto ao mar por caminhos de acesso a praias e pesqueiros, ao longo de 111 kms, entre Porto Covo e Odeceixe. É um percurso exclusivamente pedestre, mais exigente do ponto de vista físico, e está organizado em quatro etapas e cinco percursos complementares.
Cada etapa nunca tem mais de 25 quilómetros e está pensada para um dia. A programação fica ao critério de cada um, com a possibilidade de experimentar apenas as que melhor se adequarem às preferências ou condições físicas.
Em vários dias, podemos seguir a rota de forma sequencial, dormindo nas unidades de alojamento associadas ao projeto. Avisadas atempadamente, podem até organizar entre si o transporte da bagagem, para comodidade e conforto dos caminhantes. Será possível visitar o património monumental e experimentar a deliciosa gastronomia da região, em que se destacam os mariscos, o peixe fresco e as saborosas cozinhas do Alentejo e do Algarve, já que a Rota atravessa as duas regiões.
Pelo caminho, poderemos desfrutar da paisagem em pleno e apreciar as surpresas que a natureza nos presenteia, como as flores do campo, o aroma das ervas na frescura da manhã ou o colorido das borboletas. Uma observação mais minuciosa requer algum tempo extra, mas oferece oportunidades raras, como avistar lontras que quase nunca se encontram em ambientes marinhos ou ver as cegonhas que aqui nidificam nas arribas costeiras, um caso único no mundo.
Vale a pena fazer uma paragem de um dia ou dois para experimentar uma atividade como o surf, na ondulação forte do oceano atlântico, ou para descobrir uma praia tranquila, e quem sabe mesmo deserta, e relaxar do passeio. Em alternativa ao mar, as ribeiras e os rios são também boas sugestões para aliviar o calor nos dias de verão.
Muitos destes trilhos já eram bem conhecidos dos peregrinos que partiam do Cabo de São Vicente com destino a Santiago de Compostela. Como eles, podemos equipar-nos com calçado e roupa confortável e pormo-nos a caminho, sem deixar rasto da passagem para manter este reduto de natureza preservada. Será, com certeza, uma caminhada inesquecível…
Fim de semana em Troia
Passeios de barco à procura de golfinhos, praias a perder de vista, restaurantes com peixe fresquinho e esplanadas em cima da areia... é a mais simples descrição de umas férias em Troia, ideal para viajar em família.
A cerca de uma hora de Lisboa, em Setúbal, podemos apanhar o ferry-boat que atravessa o rio Sado e chegar ao complexo turístico de Troia. Nessa margem, encontramos um dos mais extensos areais de Portugal, com 18 km de comprimento, que ficará por nossa conta. Seja verão ou inverno, o microclima com temperaturas amenas permite-nos passar uns dias repletos de atividades.
No areal dourado a perder de vista, com o mar de água límpida de um lado e pinhal do outro, podemos divertir-nos com toda a família e se o tempo o permitir, até podemos aproveitar para nos dedicarmos aos desportos náuticos. A zona é muito propícia ao windsurf e à vela, como se poderá perceber pela ocupação da Marina de Troia.
Outra ideia é aproveitar para fazer umas férias de golfe. O campo de Troia, desenhado pelo famoso arquiteto americano Bobby Jones é ótimo para ter a experiência de um bom desafio de golfe, verdadeiramente integrado na paisagem. Está na lista dos melhores campos de golfe da Europa e faz parte de algumas competições internacionais.
Neste ponto de encontro do rio Sado com o mar, é muito frequente ver golfinhos e fazer um passeio de barco com tempo para os observar é sempre uma boa sugestão. Ou para fazer observação de pássaros, com o Parque Natural da Serra da Arrábida e a Reserva Natural do Estuário do Sado motivos de interesse não faltam. Não muito longe, fica a Carrasqueira, um porto de pesca muito tradicional, construído sobre palafitas.
Em Troia, encontram-se sinais de ocupação humana desde há muitos séculos. As Ruínas Romanas são um dos vestígios arqueológicos mais importantes, datadas do séc. I. Eram o maior complexo de produção de conservas e molho de peixe no ocidente romano, o que também comprova a importância da pesca na economia local desde longa data.
Seguindo a estrada que atravessa esta língua de areia chega-se a outras praias, como a da Comporta, do Carvalhal ou do Pego, onde é muito fácil encontrar um bom restaurante para almoçar peixe fresco ou provar os petiscos da gastronomia local. Mas basta andar poucos quilómetros para variar de cenário. A seguir à praia da Galé, as dunas interrompem-se para dar lugar, à lagoa de Melides, com uma falésia de arenito com cinco milhões de anos, e à Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha.
Já perto de Grândola, encontramos o Badoca Park, motivo de divertimento para toda a família, onde podemos fazer um "safari" e ver veados, búfalos, avestruzes, girafas, antílopes, zebras e outros animais ao ar livre que miúdos e graúdos vão adorar, bem no meio do Alentejo.
Relaxar no Alqueva, o Grande Lago
Para passar uns dias descontraídos e em boa companhia, o Grande Lago em que se transformou a albufeira do Alqueva é o pretexto perfeito para relaxar.
Falamos de um dos maiores lagos artificiais da Europa, construído sobre o Rio Guadiana. Tem uma albufeira de 250 km2 e abrange cinco concelhos do Alentejo, com muitos pontos de interesse. Na margem direita, recebem-nos os castelos de Juromenha, Alandroal, Terena, Monsaraz e Portel e, na margem esquerda, Mourão e Moura são miradouros privilegiados sobre este espelho de água.
O lago veio dar uma atmosfera surpreendente a esta região. Onde antes havia campo, com oliveiras, sobreiros e azinheiras, hoje vemos água e vida renovada, com ótimas condições para atividades ao ar livre e para a prática de desportos náuticos como a vela, o ski e wakeboard ou para passeios em canoa e kayak, sempre tão revigorantes. Para os amantes das caminhadas e da bicicleta, há percursos cursos sinalizados que se podem fazer. São uma boa forma de descobrir costumes e tradições e nos integrarmos com as populações locais.
É um bom sítio para fazer uma surpresa à família, para a levar num passeio pelas estradas panorâmicas em redor do Alqueva ou, melhor ainda, alugar um barco-casa e dormir debaixo de estrelas. O que também é uma ideia a considerar para um fim-de-semana romântico. Não podemos esquecer que estamos numa região onde o céu foi considerado pela UNESCO uma reserva para observação de estrelas. À noite, as luzes públicas são reduzidas ao mínimo, para possibilitar as condições perfeitas para ver o céu, mesmo para os mais astrónomos mais principiantes.
Não podemos deixar de ir à nova Aldeia da Luz, a única povoação submersa pelas águas da barragem que teve de ser literalmente mudada de sítio. A propósito, foi criado um Museu, em que grande parte do espólio é constituída por objetos dos habitantes e onde todas as memórias da antiga aldeia ficaram registadas.
Também a localidade de Monsaraz é incontornável. Uma vila-museu medieval preservada, com muralhas e ruas de xisto que encanta e surpreende. Muito próximo, na área do Convento da Orada, o Cromeleque do Xerez, de forma quadrada, é uma visita obrigatória.
Naturalmente, no Alqueva, como por todo o país, não é possível resistirmos aos sabores da comida regional. Neste caso, destacam-se as açordas, as migas, os pratos de carne de porco, os enchidos e os vinhos do Alentejo.
No Grande lago, é fácil deixarmo-nos cativar pelo turismo rural enquanto apreciamos os prazeres da vida simples do campo e contemplamos a natureza em redor.
O Cante Alentejano
Portugal tem no seu património cultural uma expressão musical muito genuína, única no mundo, o Cante Alentejano, agora reconhecido como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.
Cantado em coro e sem qualquer recurso a instrumentos musicais, por grupos de homens e mulheres, o Cante Alentejano é uma manifestação popular característica dos vários concelhos do distrito de Beja, na região historicamente conhecida como Baixo Alentejo. No entanto, foi o Município de Serpa que tomou a iniciativa da sua inscrição no Património Mundial em conjunto com a Entidade Regional de Turismo do Alentejo.
Embora atualmente seja mantida pelos grupos corais, alguns deles já centenários, sempre aconteceu em contextos informais, durante o trabalho no campo ou em momentos de festa. As letras falam de sentimentos e de momentos do quotidiano.
Embora não seja específico de nenhum género ou estrato social, é muitas vezes associado às classes rurais que se formaram numa região onde a industrialização agrícola e a extração mineira se desenvolveram durante o final do século XIX e século XX. O primeiro grupo coral surgiu em 1926, associado aos trabalhadores das Minas de São Domingos, hoje desativadas, iniciativa seguida por um segundo grupo em Serpa, em 1927.
Quando visitar a região consulte a agenda cultural para saber se algum espetáculo está previsto, mas sobretudo esteja atento pois pode acontecer espontaneamente em qualquer taberna ou associação recreativa, num momento de descontração depois de um dia de trabalho. Em 2015, está prevista a criação de roteiros e de Casas de Cante para que se possa apreciar esta expressão única.
Uma boa forma de ficar a conhecer o Cante Alentejano é ver o documentário “Alentejo, Alentejo”, de Sérgio Tréffaut. Produzido também para apoiar a candidatura a Património Mundial, foi o Melhor Filme Português no Festival Indie Lisboa 2014 e o Melhor Filme DOCSBarcelona+Medelín 2014. Não deixe de ver a apresentação no site em www.alentejoalentejo.com.