Portugal é um roteiro de templos, cultos e festas religiosas que podemos percorrer cheios de fé ou duma espiritualidade de raiz mais universal, seja em busca do sagrado ou de nós próprios.
Começando por Fátima, Capital da Paz e um dos principais locais de peregrinação mariana de todo o mundo, são muitos os motivos de visita, desde a rota das catedrais à descoberta de singelas ermidas e capelas de invocação ao padroeiro local.
Com a herança que a sua presença deixou no território, também a fé judaica é hoje motivo de descoberta, com especial incidência no Centro de Portugal. E vários são os caminhos hoje percorridos por peregrinos que repetem os passos de outrora com destino a Santiago de Compostela.
Afinal todos estamos irmanados no mesmo espírito de igualdade na diferença, ligados numa causa comum que é a ancestral abertura ao outro que caracteriza os portugueses. É porque acreditamos e nos sentimos inspirados por este movimento genuíno de gostar e receber que acolhemos com alegria quem nos visita qualquer que seja a sua crença religiosa.
Fátima, uma Viagem ao Altar do Mundo
O Santuário de Fátima é uma das maiores referências do culto mariano, a que acorrem peregrinos de todo o mundo.
O local onde está o Santuário de Fátima, a Cova da Iria, era até 1917 um lugar desconhecido do concelho de Ourém, na freguesia de Fátima. Nesse ano, um acontecimento religioso veio mudar para sempre a sua história e importância, quando três crianças pastoras, Jacinta e seus dois primos Francisco e Lúcia, testemunharam sucessivas aparições de Nossa Senhora do Rosário. Encarado inicialmente com relutância pela Igreja mas acarinhado pelo povo, o fenómeno só em 1930 seria reconhecido pelo bispo de Leiria. A partir de então o desenvolvimento da localidade foi notório, levando a que Fátima fosse elevada a vila, em 1977, e a cidade, em 1997.
A fama mundial do Santuário acentuou-se durante o papado de João Paulo II, assumido devoto de Nossa Senhora de Fátima que em 1982 aí se deslocou em agradecimento por ter sobrevivido a um atentado um ano antes. Em 2000, na sua terceira visita ao local, anunciou a beatificação de Jacinta e Francisco, a quem o Vaticano atribuiu o milagre de uma cura.
13 de maio foi a data da primeira aparição, seguida de outras no mesmo dia dos meses seguintes até outubro, e marca também as principais celebrações de Fátima. Um dos momentos mais importantes é a Procissão das Velas, na noite de 12 de maio, em que os milhares de velas dos fiéis que enchem a grandiosa praça do Santuário concedem a este lugar um ambiente mágico, de comunhão e devoção religiosa. Tão impressionante quanto a Procissão do Adeus no dia 13.
Mesmo quem não é crente não fica indiferente quando está no Santuário, pela sua grandiosidade, pela espiritualidade que se sente e pelo simbolismo.
Ao entrar no Recinto das Orações, vê-se num dos extremos a Basílica de Nossa senhora do Rosário de Fátima com a sua alta torre de 65 metros. Ao centro, o Monumento ao Sagrado Coração de Jesus e, num dos lados, fica a Capela das Aparições, precisamente onde Nossa Senhora pediu aos pastorinhos que construíssem uma capela.
No extremo oposto, foi inaugurada em 2007 a Igreja da Santíssima Trindade - Basílica Menor, uma moderna obra de arquitetura com 125 metros de diâmetro, sem apoios intermédios, e com capacidade para receber cerca de 8700 pessoas. O projeto é da autoria do arquiteto grego Alexandros Tomazis, com intervenções de outros artistas como os portugueses Álvaro Siza Vieira e Pedro Calapez. No exterior, vemos uma Cruz Alta em bronze, da autoria do alemão Robert Schad.
Na localidade, para além do Santuário, pode ainda visitar-se o Museu de Arte Sacra e Etnologia, o Museu de Cera, o Museu Fátima 1917 e o Presépio e Aldeia de Belém Animados.
A cerca de 2 km, fica Aljustrel, onde os pastorinhos viveram. Para reconstituir a história há ainda que ir à Loca do Anjo e a Valinhos, outros locais relacionados com as aparições.
Para conhecer a região, sugerimos um itinerário que passe por Leiria, pela costa entre as praias de São Pedro de Moel e da Nazaré e por dois monumentos classificados Património da Humanidade, o Mosteiro da Batalha e o Mosteiro de Alcobaça.
Visitar Braga
Sendo uma das mais antigas cidades do país, Braga é uma cidade vibrante, cheia de jovens que estudam nas suas universidades.
Construída há mais de 2000 anos, “Bracara Augusta” foi justamente fundada por Augusto, ficando numa das principais vias romanas da Península Ibérica, pois era sede administrativa do Império. A Diocese de Braga, província romana da Galécia, atual Galiza, é a mais antiga de Portugal e, na Idade Média, chegou a rivalizar com Santiago de Compostela em poder e importância. Aqui passava um dos Caminhos de Santiago, quando este culto começou a ter maior expressão, com a reconquista cristã e a fundação de Portugal.
A Sé Catedral é também a mais antiga do país e foi mandada construir no séc. XII pelos pais do primeiro rei de Portugal, D. Henrique e D. Teresa, que ali têm os seus túmulos. Braga continua a ser hoje um dos principais centros religiosos do país, onde as Festas da Semana Santa e do São João são ponto alto no calendário litúrgico e turístico.
Além do Tesouro-Museu da Sé, vale a pena visitar o Museu dos Biscainhos, instalado num palácio barroco, o período mais marcante no património de Braga, ou o Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa, já que a cidade é rica também em vestígios da época romana. Propomos um passeio sem pressas pelo centro histórico para visitar algumas das muitas igrejas, apreciar o casario e edifícios históricos, como o Palácio do Raio, o Theatro Circo, o Arco da Porta Nova, ou tomar um café na emblemática Brasileira com vista para a azáfama da Avenida Central. Mas esta é considerada a cidade mais jovem de Portugal e entre as suas marcas contemporâneas destaca-se o Estádio Municipal de Braga, traçado por Souto Moura, um dos mais notáveis arquitetos portugueses, galardoado com o Prémio Pritzker.
Quem visita Braga não pode deixar de subir ao Santuário do Bom Jesus, um ícone da cidade, com o seu monumental escadório. No meio de espaços verdes, oferece uma excelente panorâmica sobre a cidade, tal como duas outras igrejas dos arredores: O Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, importante local de culto mariano do país, e ainda a Igreja de Santa Maria da Falperra. Fora do centro histórico, são também dignos de visita, pela sua beleza e importância histórica, o Mosteiro de São Martinho de Tibães e a Capela de S. Frutuoso de Montélios.
Entre as especialidades gastronómicas de Braga é forço referir o Bacalhau à Braga, à Narcisa ou à minhota, o cabrito assado e o Pudim Abade de Priscos. A noite, nesta cidade de estudantes, é a não perder, com animação para todos os gostos.
Recentemente, a fixação da Universidade e a qualidade da arquitetura contemporânea de Braga trouxeram um impulso de juventude que conferiu a esta cidade milenar uma imprevista modernidade.
Caminhos de Santiago
Os Caminhos de Santiago, que atravessam Portugal de sul para norte, são seguidos pelos peregrinos desde há séculos.
Experimentá-los é partir numa descoberta do país e de nós próprios.
O destino destes Caminhos é a Catedral de Santiago de Compostela em Espanha, sob a qual, diz a lenda, se encontra o túmulo do apóstolo São Tiago, que evangelizou na Península Ibérica, então província de Roma. O culto deste santo popularizou-se ao longo da Idade Média dando origem a grandes peregrinações provenientes de todos os cantos da Europa. E em Portugal teve maior difusão a partir do séc. XII, com a fundação da nacionalidade portuguesa.
Dependendo dos locais de partida dos peregrinos, percorriam-se em Portugal vários caminhos com destino a Santiago, mas atualmente podem identificar-se três percursos principais.
O mais antigo é o Caminho do Norte. Parte da Sé do Porto e segue por Rates (onde o próprio São Tiago ordenou o Bispo que deu nome à Igreja românica de São Pedro), Barcelos, Ponte de Lima e Valença, onde entra em Espanha. Na Idade Média, o Caminho do Norte tinha variantes, sendo comum que passasse por Guimarães (em cuja praça de Santiago diz a lenda que o Santo teria colocado uma imagem de Nossa Senhora), mas sobretudo por Braga, que disputava com Compostela o título de centro da Cristandade na Península por ser a Sede do arcebispado de toda a Península Ibérica. O seu primeiro bispo foi justamente o Bispo de Rates. Outra variante era o Caminho da Geira (a antiga via romana) que atravessava o Gerês até à Portela do Homem. Mas ainda havia o Caminho da Costa que hoje está assinalado. Parte também do Porto e segue por Vila do Conde, Esposende, Viana do Castelo e Caminha, onde se pode atravessar para Espanha, ou seguir até Valença.
Ligando Viseu a Chaves, com saída para Espanha por Vilarelho da Raia, o Caminho Interior ganhou nova vida com a colocação de sinalética orientadora e a abertura de albergues para os peregrinos. Saindo de Viseu, este Caminho passa junto a Castro Daire, Lamego, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Vila Real e Vila Pouca de Aguiar, até atingir Chaves. Vai entroncar na Via da Prata, a antiga rota comercial dos romanos que atravessava o oeste de Espanha.
Mais a sul, o Caminho Central Português coincide até Santarém com o Caminho do Tejo, de peregrinação a Fátima. Sai da Sé de Lisboa e segue à beira do Rio Tejo por Alverca, Vila Franca de Xira, Azambuja, Santarém, Golegã e Tomar, antiga sede dos Templários em Portugal. Daqui continua em direção a Coimbra, passando por Alvaiázere, Ansião e Rabaçal. Em Coimbra é imperioso visitar o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, já que aí se encontra o túmulo da Rainha Santa Isabel (séc. XIV), que peregrinou a Santiago e se fez sepultar com os símbolos da vieira, da cruz de Santiago e do bordão. Continuando para norte, o Caminho segue por Mealhada, Águeda, Albergaria-a-Velha, São João da Madeira, Grijó, até entrar no Porto, onde começam os Caminhos do Norte.
Partindo igualmente de Lisboa, esta rota tinha uma variante que seguia junto ao mar, passando por Sintra, Torres Vedras, Caldas da Rainha, Alcobaça, Batalha e Leiria, daí seguindo para Coimbra, onde se juntava ao grande Caminho Central. Hoje não está, porém, devidamente sinalizada, tal como os caminhos que na Idade Média partiam do Algarve.
Com fé de peregrino ou desejo de aventura e comunhão com a natureza, os Caminhos de Santiago são decerto uma boa sugestão para os adeptos de longas caminhadas.
Caminho Português de Santiago - Caminho Central
O mais percorrido Caminho Português de Santiago é o Caminho Central, que passa por Lisboa, Coimbra e o Porto. Está totalmente assinalado desde Lisboa com as inconfundíveis setas amarelas que marcam os Caminhos de Santiago e, por vezes, com uma vieira amarela sobre fundo azul, o símbolo oficial.
Mas em Portugal existem vários Caminhos de Santiago, sempre de sul para norte, já que Santiago de Compostela fica na Galiza, a 120 km da fronteira de Valença, ao norte de Portugal.
A sul de Lisboa o Caminho não está ainda sistematicamente assinalado, mas sabe-se que também era percorrido na Idade Média pelos peregrinos, nomeadamente desde o Cabo de S. Vicente até Santiago do Cacém, num troço que hoje é conhecido como o Caminho Histórico da Rota Vicentina. A Rota Vicentina faz parte da Grande Rota GR11/E9 que passa por Lisboa.
O Caminho Central passa pelas seguintes localidades (distâncias aproximadas):
DE LISBOA A SANTARÉM
1. Lisboa > Alhandra, 33km
Lisboa > Sacavém > Alpriate>Póvoa de Santa Iria > Alverca > Alhandra
2. Alhandra > Azambuja, 24km
Alhandra > Vila Franca de Xira > Carregado > Vila Nova da Rainha > Azambuja
3. Azambuja > Santarém, 32km
Azambuja > Aeródromo > Reguengo > Valada > Porto de Muge > Omnias > Santarém
DE SANTARÉM A TOMAR
4. Santarém > Golegã, 30,5 Km
Santarém > Vale Figueira > Pombalinho > Azinhaga (terra natal de José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998) > Golegã
5. Golegã > Tomar, 22km
Golegã > S. Caetano (Quinta da Cardiga) > Vila Nova da Barquinha > Atalaia > Grou > Asseiceira > Santa Cita > Tomar
Coimbra > Adémia de Baixo > Trouxemil > Adões> Sargento Mor > Santa Luzia > Lendiosa > Mealhada
10. Mealhada > Águeda, 31km
Mealhada > Sernadelo > Alpalhão > Aguim > Anadia > Arcos > Avelãs de Caminho > Aguada de Baixo > Águeda
11. Águeda > Albergaria-a-Velha, 19,5km
Águeda > Mourisca do Vouga > Serém de Cima > Albergaria-a-Velha
12. Albergaria-a-Velha > Oliveira de Azeméis, 23km
Albergaria-a-Velha > Albergaria-a-Nova > Pinheiro da Bemposta > Bemposta > Oliveira de Azeméis
13. Oliveira de Azeméis > Grijó, 33,5 Km
Oliveira de Azeméis > Santiago de Riba-Ul > Cucujães > S. João da Madeira > Malaposta > Lourosa > Moselos > Grijó
14. Grijó > Porto 23,5km
Grijó > Perosinho > Vila Nova de Gaia > Porto
DO PORTO A VALENÇA
15. Porto > São Pedro de Rates, 37 km
Porto > Araújo > Maia > Vilar do Pinheiro > Mosteiró > Vilarinho > Ponte de Ave > São Miguel dos Arcos > São Pedro de Rates
16. São Pedro de Rates > Barcelos, 17km
São Pedro de Rates > Pedra Furada/Goios > Pereira > Barcelinhos > Barcelos
17. Barcelos > Ponte de Lima, 34km
Barcelos > Vila Boa > São Pedro de Fins/Tamel > Ponte das Táboas > Outeiro > Grajal > Reborido > Vitorino dos Piães > Anta > Pedrosa > Ponte da Senhora das Neves > Ponte de Lima
18. Ponte de Lima > Rubiães, 22Km
Ponte de Lima > Arcozelo > Ponte da Geira > Ponte do Arco > Alto da Portela/Labruja > São Roque > Rubiães
19. Rubiães > Valença, 17km
Rubiães > São Bento da Porta Aberta > Gontomil > Fontoura > Paços > Pedreira > Tuído > Arão > Valença
Rota dos Santuários Marianos
Venerada de diversas formas ao longo dos tempos, a Virgem Maria, Mãe de Deus, é uma presença constante nas manifestações da religião católica em Portugal. Visitando templos que lhe são dedicados, podemos conhecer o fervor desta devoção.
Fátima, onde Nossa Senhora apareceu aos três pastorinhos em 1917, é sem dúvida o principal local de culto em Portugal e um dos principais santuários do culto mariano mundial. Desde então, e especialmente nos dias 13 de cada mês, este lugar de fé e de paz recebe peregrinações que atingem o expoente máximo em Maio e Outubro, quando multidões expressam a sua fé de um modo que a todos toca, sejamos crentes ou não.
Em Portugal, o culto a Nossa Senhora remonta à fundação da nacionalidade e deu origem a mosteiros, ermidas, igrejas ou santuários que são palco de celebração e festas concorridas. Por isso a maioria das catedrais em Portugal é dedicada a Santa Maria, como é o caso das Catedrais do Porto, Viseu, Lisboa, Évora e muitas, muitas outras.
Mas num percurso de norte para sul, podemos destacar desde logo a Igreja de Nossa Senhora da Agonia em Viana do Castelo, centro de uma das mais coloridas romarias de Portugal. Em Braga, a mais antiga Sé portuguesa é dedicada a Santa Maria, e ali perto temos manifestações de grande devoção no Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, Igreja de Santa Maria de Falperra e no Santuário de Nossa Senhora da Abadia, em Santa Maria do Bouro, Amares. Já em Guimarães, vale a pena conhecer a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira e o Santuário de Nossa Senhora da Penha. Em Lamego, o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios que domina a cidade no cimo de imponente escadório, é um dos mais célebres lugares de culto mariano por ocasião da sua grande romaria.
No Porto temos a catedral sob invocação de Nossa Senhor da Assunção, e em Coimbra, a Sé Velha, ou Igreja de Santa Maria, é mais uma igreja fortaleza associada ao modo românico e ao período da fundação de Portugal. Continuando para sul encontramos dois monumentos consagrados a Santa Maria que são Património Mundial: a cisterciense Abadia de Alcobaça, mandada construir pelo 1º rei de Portugal, e o verdadeiro compêndio de escultura em pedra que é o Mosteiro de Santa Maria da Vitória ou Mosteiro da Batalha, porque comemora a vitória numa batalha pela independência de Portugal. Ali perto fica a praia da Nazaré cuja Igreja de Nossa Senhora é objeto de outra concorrida romaria, associada a um conhecido milagre local.
Em Lisboa, há vários templos dedicados a Nossa Senhora, alguns de verdadeira devoção popular, como é o caso da Capela da Senhora da Saúde, no histórico bairro da Mouraria. Mas além da românica Sé Patriarcal, ou igreja de Santa Maria Maior, o mais importante é o Mosteiro dos Jerónimos, um dos mais impressivos monumentos da capital, classificado Património Mundial e cuja igreja está dedicada a Santa Maria de Belém. A sul de Lisboa, encontramos no Cabo Espichel o Santuário de Nossa Senhora do Cabo, sede duma importante romaria designada como Círio da Senhora do Cabo ou Círio Saloio.
Já no Alentejo, um dos maiores lugares de peregrinação é o Santuário de Nossa Senhora de Aires, perto de Viana do Alentejo, mas também o Santuário de Nossa Senhora da Conceição ou Solar da Padroeira, em Vila Viçosa, desde que, em 1646, D. João IV proclamou a imagem da Senhora da Conceição padroeira de Portugal.
Finalmente no Algarve, num percurso de invocação mariana são dignas de menção a Catedral de Santa Maria em Faro, a Igreja de Santa Maria do Castelo, em Tavira, e a Festa da Mãe Soberana, que se realiza em Loulé em honra de Nossa Senhora da Piedade.
Templários
Inspirados pelos mistérios da história dos Cavaleiros da Ordem do Templo e pela sua simbologia plena de mensagens ocultas, podemos fazer uma viagem à descoberta dos tesouros templários em Portugal.
A Ordem dos Templários estabeleceu-se em Portugal no séc. XII, para ajudar os primeiros reis portugueses na Reconquista Cristã e continuar as Cruzadas. O seu castelo, que fundaram em Tomar, em 1160, era na época o mais moderno e avançado dispositivo militar do reino, inspirado nas fortificações da Terra Santa. Mas quase dois séculos depois, em 1312, a Ordem foi extinta pelo Papa Clemente V, com a intenção de pôr fim à sua fama e poder. Em Portugal, no entanto, foi criada a Ordem de Cristo, fiel herdeira e depositária de todas as suas riquezas espirituais e materiais, preservando o seu espírito de cruzada durante a epopeia dos Descobrimentos.
Bem no coração de Portugal, podemos deixar-nos guiar por histórias que nos transportam numa busca imaginária do Santo Graal.
Entre o Rio Tejo e o afluente Zêzere, descobrimos o emblemático Castelo de Almourol, a vila ribeirinha de Constância ou a misteriosa Torre de Dornes. A cidade de Tomar, que em tempos foi o ponto de reunião dos cavaleiros e heróis da demanda, será agora o culminar de um passeio em que vamos descobrir paisagens e monumentos deslumbrantes.
Ficaremos a conhecer melhor os bravos cavaleiros cristãos que tiveram sede no Convento de Cristo, descobriremos que a Charola foi construída à semelhança do Santo Sepulcro de Jerusalém e que a igreja manuelina repete as proporções do Templo de Salomão, o lugar da Fundação da Ordem.
Herança Judaica
Por vilas, cidades e aldeias, partamos à descoberta dum património rico em memórias evocativas da presença judaica em Portugal.
Embora se conheçam referências anteriores, foi entre os séculos V e XV que a comunidade judaica sefardita, ou judeus da Península Ibérica, se estabeleceu no território que é hoje Portugal, contribuindo das mais diversas formas para a cultura portuguesa.
Protegidos pelos monarcas, muitos dos seus membros, entre os quais se encontravam filósofos, humanistas, cientistas e mercadores, mas também profissões mais comuns como sapateiros, alfaiates ou tecelões, participaram ativamente em vários momentos importantes da História portuguesa. Destacam-se o momento da fundação da nacionalidade e o seu contributo para o povoamento do território e, mais tarde, os contributos financeiros e científicos durante a época dos Descobrimentos. De referir, o grande matemático e cosmógrafo do séc. XVI, Pedro Nunes, criador do Nónio, um instrumento de navegação.
Em 1496, o Édito de Expulsão dos Judeus em Portugal obrigou-os à conversão ao catolicismo tornando-os cristãos-novos. Muitos saíram do país, mas muitos outros ficaram e mantiveram a sua fé de forma secreta, dando origem aos chamados marranos ou cripto-judeus. As marcas e inscrições simbólicas desses tempos podem ainda ver-se esculpidas nas casas das antigas judiarias, cujos vestígios se preservam nalgumas localidades como Trancoso, Belmonte, Guarda ou Castelo de Vide.
Rua Nova, Rua Direita, Rua da Estrela ou Espinosa são exemplos de nomes que assinalam a existência de uma judiaria no local.
Reparando nas casas, veremos no piso térreo uma porta larga de acesso à loja e outra mais estreita, de entrada na habitação, localizada no piso superior. São uma prova do importante impulso que os judeus deram à atividade comercial. Nalgumas ainda se vê a ranhura da “Mezuzah” (pergaminho com palavras da Bíblia, que na fé judaica se colocava do lado direito da ombreira da porta).
Uma das primeiras obras impressas no país foi uma edição do Pentateuco, feita por Samuel Gacon, em Faro, em 1487. Hoje temos vários museus sobre a presença judaica em Portugal, como em Castelo de Vide, Belmonte, Faro ou Tomar, este último instalado numa antiga sinagoga do séc. XV. E podemos facilmente descobrir a história judaica em Portugal seguindo a Rota das Judiarias, um testemunho do encontro de povos e culturas que nos orgulhamos de preservar.
Na sua diáspora, os judeus também divulgaram a língua e cultura portuguesas. Durante a II Guerra Mundial, Portugal recebeu muitos milhares de judeus em fuga das perseguições nazis. Com existência legal em Portugal desde 1912, a comunidade judaica tem atualmente sinagogas em Lisboa, Porto, Trancoso e Belmonte.
Festas e Devoções
Num ato de fé ou pelo simples prazer da descoberta, encontramos em Portugal vários motivos de visita e celebração religiosa e outros tantos percursos de busca interior.
Portugal, a mais antiga nação da Europa, com fronteiras definidas desde o séc. XII, é constituído por território conquistado aos mouros que à época aqui habitavam. Nesse esforço de Reconquista Cristã, os reis portugueses foram ajudados pelos movimentos das Cruzadas, nomeadamente pelos Cavaleiros do Templo. Por isso é um país tradicionalmente católico e ainda hoje muitos templos e cultos religiosos mergulham nas raízes históricas da fundação nacional. O culto mariano é um desses exemplos e aqui encontramos inúmeros Santuários Marianos e diversas formas de veneração à Virgem Maria. Mas Fátima, local das Aparições de Nossa Senhora aos três Pastorinhos em 1917, é sem dúvida o mais importante local sagrado do país. É uma terra de forte espiritualidade, conhecida como a Cidade da Paz, a que ninguém, crente ou não, fica indiferente.
Em honra de Nossa Senhora e de muitos outros Santos, muitas devoções manifestam-se em festas, romarias e peregrinações de grande significado popular. É o caso das Festas da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, das peregrinações em redor de Braga (a Nossa Senhora do Sameiro, ao Santuário de S. Bento da Porta Aberta e ao de Nossa Senhora da Abadia), ao Santuário de Nossa Senhora da Penha em Guimarães ou a Nossa Senhora dos Remédios em Lamego, para referir apenas as mais concorridas no norte do país. Mais a sul mencionem-se as Festas da Rainha Santa em Coimbra, as romarias e círios a Nossa Senhora da Nazaré e a Nossa Senhora do Cabo (Cabo Espichel, Sesimbra), ao Santuário de Nossa Senhora de Aires, perto de Viana do Alentejo e ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa também no Alentejo. Já no Algarve são de referir em particular as Festas da Mãe Soberana, em Loulé, talvez a maior manifestação religiosa a sul de Fátima.
Para além destas, muitas outras festas cheias de colorido realizam-se pelo país fora, como as Festas dos Santos Populares que em Lisboa se celebram a 13 de junho, dia de Santo António, e no Porto a 24 de junho, dia de S. João. De resto, Santo António, com igreja e museu muito visitados junto à Sé de Lisboa, é alvo de grande veneração não só nesta cidade, onde nasceu, como por todo o país.
Como se vê, vários caminhos de peregrinação podem ser percorridos em Portugal, mas os que se dirigem a Santiago de Compostela, ligando desde o séc. XII importantes centros religiosos, são um dos fortes sinais da identidade cultural europeia. Podemos por isso juntar-nos aos peregrinos de todo o mundo que fazem o Caminho Português (embora haja mais que um percurso), para descobrir o património histórico e ficar em comunhão com a natureza.
Mas aqui viveram também muitos judeus desde a fundação do país - que ajudaram a povoar - e particularmente a partir de 1492, quando foram expulsos de Espanha. Hoje encontramos o registo da presença Sefardita em muitas vilas e cidades, sobretudo num eixo paralelo à fronteira no Centro de Portugal e norte do Alentejo. Escondida durante séculos, essa presença é agora revelada pelo património histórico e cultural de uma comunidade que deixou importantes contributos para o desenvolvimento da náutica, da medicina e da economia nacionais.
Por todo o país, podemos visitar igrejas e santuários que são autênticos museus de talha dourada, azulejaria e arte-sacra, ícones reais da cultura de um povo. E poderemos cruzar-nos com outras devoções, já que o país goza de ampla liberdade religiosa. Afinal as Festas e Devoções religiosas são também um apelo à viagem, promovendo o enriquecimento espiritual e cultural do visitante.